Quase 26% da população infantil brasileira não recebeu nenhuma dose da vacina em 2021, de acordo com dados divulgados em abril pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa estatística reflete uma tendência global de diminuição na cobertura vacinal. No Brasil, a queda na imunização teve início em 2012, intensificou-se em 2016 e foi agravada pela pandemia de covid-19.
Diante desse problema, a Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o Programa Nacional de Imunização (PNI), lançou o Projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais. O objetivo dessa iniciativa é aumentar a cobertura vacinal em todo o país por meio de parcerias com estados e municípios, levando em consideração as diferenças regionais.
A Dra. Lurdinha Maia, coordenadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos e do projeto, explica que foram elaborados planos municipais para a recuperação das altas coberturas vacinais, contando com a participação dos coordenadores de imunizações locais, profissionais da atenção primária, salas de vacinação e secretários municipais . Além disso, um plano de comunicação e educação com ações educativas foi desenvolvido.
A aproximação com os profissionais da linha de frente do Sistema Único de Saúde e o trabalho conjunto entre o poder público, parceiros e sociedade civil são apontados pela coordenadora como os fatores mais poderosos do projeto.
A queda na cobertura vacinal é um fenômeno multifatorial que tem várias causas e tem levado ao ressurgimento de doenças preveníveis que haviam sido erradicadas no país. Vacinas essenciais, como a BCG, tríplice bacteriana, hepatite B e poliomielite, apresentam taxas de cobertura no Brasil às médias inferiores mundiais. De acordo com um levantamento do Ministério da Saúde divulgado no ano passado, os índices de cobertura vacinal, que atingiram 97% em 2015, caíram para 75% em 2020. As maiores quedas ocorreram nas vacinas BCG e contra a Hepatite A.
O infectologista Henrique Lacerda destaca a importância da vacinação infantil, uma vez que doenças como sarampo, poliomielite, difteria e coqueluche, que morreram principalmente em crianças, podem causar complicações graves, inclusive a morte. Ele ressalta que as vacinas não apenas previnem essas doenças, mas também sofrem a gravidade dos casos, caso a infecção transmitida. Portanto, se uma criança vacinada contrair a doença, é mais provável que ela tenha uma forma mais branda e menor probabilidade de desenvolver complicações.
Duas pesquisas publicadas este ano, uma pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outra pela Sociedade Brasileira de Pediatria, apontam alguns dos motivos para esse fenômeno. Entre os principais estão a falsa segurança em relação à necessidade da vacinação por causa do controle de doenças; a desinformação do debate público com desinformação e crescimento de movimentos antivacinas.
Fonte: Brasil 61