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Céu laranja chama atenção por beleza mas indica perigos. Entenda

Foto: Victor Martins

O céu alaranjado observado em várias regiões do Brasil nas últimas semanas pode parecer um espetáculo de belas paisagens, mas, na verdade, é um reflexo alarmante da poluição e das queimadas que afetam o país. Esse fenômeno, além de conferir um tom laranja escuro ao sol, também torna o céu mais opaco e esbranquiçado, reduzindo a visibilidade, especialmente antes do pôr do sol.

Especialistas afirmam que o fenômeno está diretamente relacionado às queimadas. Somente em agosto, o Brasil registrou 68.635 focos de incêndio, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A região Centro-Oeste lidera em número de queimadas, com destaque para os estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso, que juntos somam 56,46% de todos os focos registrados no país.

Bruno Bainy, meteorologista do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, explica que a combinação de queimadas, emissões urbanas e a falta de mecanismos naturais para dispersar os poluentes cria uma massa de ar estagnada, acumulando poluição atmosférica em boa parte do Brasil. Esse cenário agrava os impactos da poluição, deixando o ar mais denso e poluído.

Ruth Laranja, coordenadora do curso de Geografia da Universidade de Brasília, aponta que o aumento das queimadas em períodos de seca intensifica a presença de poluentes na atmosfera, como CO2, metano e óxidos de nitrogênio, o que altera a coloração do céu. Ela também ressalta que o fenômeno afeta majoritariamente o interior do país, enquanto regiões litorâneas, como o Nordeste, são menos impactadas devido à presença de massas de ar úmidas vindas do Oceano Atlântico, que provocam chuvas.

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Como isso ocorre?

De acordo com Bruno Bainy, essa coloração vem da interação da luz solar — que é uma mistura de cores — com o material particulado em suspensão na atmosfera, especialmente aquele mais fininho. Essa interação é chamada de espalhamento e há dois tipos principais: o espalhamento de Rayleigh, que ocorre principalmente quando há partículas muito pequenas, o que causa a tonalidade azul do céu, e no pôr do sol extingue parte dos tons mais frios, então predomina os mais quentes.

“Já o espalhamento Mie, que não depende do tamanho da partícula e do comprimento de onda da luz, mas ocasiona esse efeito opaco, mais esbranquiçado da atmosfera, especialmente no pôr do sol, porque é quando a angulação do raio percorre uma trajetória maior e sofre mais interferência”, explica o meteorologista. É isso que tem acontecido com a quantidade de poluentes e fuligem vindos das queimadas da Amazônia, Pantanal e mais recentemente da região Sudeste que, segundo Ruth, são transportadas pelas correntes de ar, principalmente as de ar quente.

Cuidados

A poluição, que por si só já traz um impacto significativo para a qualidade de vida da população, mas agora também é agravada pela onda de calor que atinge boa parte do país e deixa as temperaturas extremamente altas, algumas acima dos 40ºC, além da baixa umidade relativa do ar. Além dos problemas respiratórios que ela pode causar, segundo o meteorologista, existem muitos estudos que relacionam a poluição atmosférica à maior taxa de mortalidade e problemas cardíacos. “Com esses três fatores combinados [baixa umidade, altas temperaturas e poluição], um acaba potencializando o outro”, comenta.

Por isso, a indicação é se prevenir para, pelo menos, minimizar os efeitos na saúde. “Ambientes mais climatizados, uso de umidificadores, hidratação constante, uso de soluções fisiológicas, como soro no nariz e olhos, e em alguns casos, quando a gente tem queimadas próximas, o ideal é manter a casa fechada para evitar esse excesso de fumaça”, recomenda Bainy. Pessoas com comorbidades cardíacas e respiratórias precisam ter atenção especial à saúde neste momento, além das crianças e idosos que são mais vulneráveis.

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