Hoje, 2 de abril, é o Dia Mundial do Autismo, o SBT News entrevistou especialistas para entender a complexidade do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e os desafios enfrentados por indivíduos e famílias ao longo de todo o processo de diagnóstico e tratamento.
No Brasil, a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que pelo menos dois milhões de pessoas tenham o transtorno.
Para Alice Tufo, psicóloga especializada em TEA, não precisamos mais de apenas conscientização da condição, mas sim pensar na garantia de direitos para pessoas com esse diagnóstico.
“Já passamos da fase da conscientização do autismo. As pessoas já sabem de sua existência. O que precisamos é do conhecimento de cada característica, dos níveis de TEA. A sociedade precisa fugir dessa visão capacitista e parar de ver quem tem o transtorno como pessoas sem potência e autonomia”, ressalta.
Ela pontua que o autismo não é uma condição única, mas um espectro que engloba uma variedade de manifestações, desde as mais leves até as mais intensas, com diferentes necessidades de apoio.
“Os níveis de autismo são definidos a partir do grau de independência e autonomia do paciente. Apesar dos níveis, não existe autismo pior ou melhor, mas sim graus de suporte diferentes. O que muda, na prática, são as horas de intervenção de acordo com o nível definido”, explica Alice.
Classificação dos níveis de autismo: o que isso significa?
Atualmente, os níveis de autismo são definidos com base no grau de suporte necessário para a pessoa. O DSM-5, manual utilizado para diagnóstico psicológico, passou a classificar o autismo em três níveis:
- Nível 1: Requer suporte;
- Nível 2: Requer suporte substancial;
- Nível 3: Requer suporte muito substancial.
Sinais iniciais de autismo: o que observar?
Os pais e cuidadores devem ficar atentos a sinais relacionados à comunicação, socialização e comportamentos repetitivos.
A cada fase do desenvolvimento infantil surgem sinais específicos.
Por exemplo, em bebês de até 6 meses, a falta de sorriso social, contato visual reduzido e desinteresse por rostos humanos podem ser sinais de alerta.
Já entre 6 e 12 meses, a ausência de respostas ao nome e de gestos simples é motivo de atenção. Entre 1 e 2 anos, o atraso na fala e a falta de interação social também são indicativos importantes. Nesse caso, não determina o autismo, porque pode ser confundido com outro diagnóstico, mas pode ser considerado um sinal de alerta.
Dos 2 aos 3 anos, aparece a dificuldade na formação de frases simples e pouco interesse por crianças e brincadeira, além da repetição de brincadeiras.
Diagnóstico precoce ajuda?
Há um protocolo que define que o diagnóstico pode acontece a partir dos 18 meses de vida. No entanto, segundo Alice, ele pode acontecer antes ou depois dessa faixa-etária.
Embora existam instrumentos que podem identificar sinais precoces do transtorno antes dessa idade, muitos especialistas defendem a importância de acompanhar o desenvolvimento da criança de forma contínua, para garantir que a avaliação seja a mais precisa possível.
A detecção precoce, de acordo com ela, tem grande influência no tipo e na intensidade da intervenção que será adotada, como também no sucesso do tratamento.
Crianças com níveis mais elevados de suporte tendem a ser diagnosticadas mais cedo, o que facilita a implementação de terapias adequadas.
Como é feito o diagnóstico de autismo?
O diagnóstico e a classificação do nível de autismo são feitos por profissionais de saúde especializados, como psiquiatras ou neurologistas, por meio de avaliações clínica.
Não há uma única ferramenta padronizada para esse diagnóstico, mas instrumentos como o ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule) e o ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised) são amplamente utilizados como suporte.
Basicamente, a ADOS funciona como uma avaliação observacional, que avalia a comunicação, interação social, hábitos e comportamentos dos pacientes. Já a ADI-R é uma entrevista.
Como é o tratamento?
As abordagens mais recentes no tratamento de autismo focam em práticas baseadas em evidências científicas, como a Análise Comportamental Aplicada (ABA), que é o tratamento individualizado com metas e objetivos visando a evolução do paciente.
Ele precisa ser multidisciplinar, com diversas especializações envolvidas (psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos), além de contar com a presença da família e ser iniciado o quanto antes, com intervenções personalizadas para cada caso, visando o desenvolvimento de habilidades que possam ser aplicadas no contexto da vida real da criança, e não apenas em um ambiente clínico.
