As mortes provocadas por acidentes de motocicleta no Brasil passaram de 3% no fim dos anos 1990 para quase 40% em 2023, segundo estudo divulgado pelo Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quarta-feira (26). As motocicletas concentram cerca de 60% das internações por acidentes de transporte e consumiram, apenas em 2024, mais de R$ 270 milhões das despesas hospitalares do setor público.
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O estudo, intitulado Mortalidade e morbidade das motocicletas e os riscos da implantação do mototáxi no Brasil, alerta para o impacto da expansão do serviço de mototáxi no país. As fragilidades do modelo, somadas às estatísticas crescentes de mortalidade, reforçam que as motos não são adequadas para transporte remunerado de passageiros.
Crescimento da frota e aumento da mortalidade
A frota nacional de motocicletas passou de 2,7 milhões (1998) para mais de 34 milhões (2024), saltando de menos de 10% para cerca de 30% da frota motorizada do país. No mesmo período, as mortes de motociclistas cresceram 15 vezes.
Após um período de queda a partir de 2014, a taxa de mortalidade voltou a subir e já se aproxima do pico registrado antes da crise econômica. Hoje, a moto é o veículo que mais mata no trânsito brasileiro.
Perfil das vítimas
A violência no trânsito atinge desigualmente determinados grupos sociais. Segundo o estudo:
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70% das vítimas têm entre 20 e 49 anos;
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O grupo de 20 a 29 anos representa um terço das mortes;
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Mais da metade tem ensino fundamental incompleto;
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90% das vítimas têm, no máximo, ensino médio;
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Pessoas pardas são maioria entre mortos e internados;
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Homens representam quase 90% das mortes e mais de 80% das internações.
Nos últimos 20 anos, as internações por acidentes com motocicletas no SUS superaram 160 mil por ano, equivalendo a 60% de todos os casos relacionados ao transporte terrestre.
Riscos da regulamentação do mototáxi
O Ipea recomenda cautela na regulamentação do serviço de mototáxi no Brasil. Entre os fatores citados estão:
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alta mortalidade e gravidade das lesões;
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dificuldades para garantir equipamentos de segurança adequados;
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ausência de seguros;
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impacto no equilíbrio econômico do transporte coletivo.
Para o pesquisador Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, cidades pequenas deveriam investir em transporte público ou automóveis antes de adotar o mototáxi. Já nas grandes cidades, o serviço só deveria funcionar em áreas onde veículos maiores não conseguem circular, como favelas com pouca infraestrutura viária.
Segundo ele, regulamentar o mototáxi de forma ampla pode elevar substancialmente o risco de acidentes fatais e aumentar o número de lesões graves entre passageiros e condutores.
