“Benção, mãe. Benção, pai.” Com essa saudação à ancestralidade, a escritora Ana Maria Gonçalves tomou posse, na sexta-feira (7), na cadeira número 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro. A autora do premiado romance Um defeito de cor tornou-se a primeira mulher negra a integrar o quadro de imortais da instituição, fundada em 1897.
Leia também:
Teatro Sesc Sandoval Wanderley inicia programação com espetáculos, shows e oficinas gratuitas em Natal
Durante o discurso, Ana Maria emocionou o público ao relembrar o legado dos antigos ocupantes da cadeira, entre eles o jornalista e diplomata Domício da Gama e o linguista Evanildo Bechara, seu antecessor. “O fundador da cadeira 33 é Domício da Gama, nascido em Maricá em 1862. Amanhã completaremos 100 anos de sua morte”, destacou.
Além disso, a escritora resgatou momentos históricos de exclusão feminina na ABL, lembrando o veto à candidatura da autora Amélia Beviláqua, em 1930. “A não admissão de mulheres foi inicialmente um acordo entre cavalheiros, já que não havia nada impeditivo no estatuto”, afirmou, arrancando aplausos.
A trajetória de Ana Maria Gonçalves
Nascida em 1970, em Ibiá (MG), Ana Maria Gonçalves iniciou a carreira como publicitária em São Paulo. Em 2002, mudou-se para a Ilha de Itaparica (BA) e passou a se dedicar integralmente à literatura. Desde então, consolidou-se como uma das vozes mais potentes da literatura brasileira contemporânea.
Seu primeiro livro, Ao lado e à margem do que sentes por mim, lançado de forma independente, esgotou rapidamente após divulgação na internet. No entanto, foi com Um defeito de cor (2006) que Ana Maria ganhou reconhecimento internacional. A obra narra a trajetória de Kehinde, menina africana escravizada na Bahia, inspirada em Luísa Mahin, figura central da Revolta dos Malês.
O livro venceu o Prêmio Casa de las Américas, em 2007, vendeu mais de 180 mil exemplares e é considerado um clássico contemporâneo da literatura brasileira.
Além de escritora, Ana Maria Gonçalves é roteirista, dramaturga, professora de escrita criativa e palestrante. Fundadora da Terreiro Produções, ela vive em São Paulo e segue atuando em projetos para televisão, teatro e cinema, reforçando seu papel como referência para novas gerações de artistas negros.






















































