Um grupo de inventores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) criou uma inovação na área veterinária e farmacêutica: um produto para ser usado na pós-ordenha, capaz de prevenir infecções mamárias em caprinos e bovinos, como a mastite. Denominado Antisséptico à base de extrato pirolenhoso de eucalipto para uso na pós-ordenha de animais leiteiros, a solução tem componentes naturais, renováveis e que não agridem o ambiente nas fases de produção e utilização. Coordenador do grupo que envolve dez pesquisadores, Alexandre Santos Pimenta explica que a tecnologia tem como princípio ativo o extrato pirolenhoso (EP), um coproduto líquido da produção industrial do carvão vegetal com efeito antibiótico comprovado cientificamente.
“A partir da comprovação dos efeitos bioativos do EP, foram desenvolvidas diferentes formulações, testadas em ensaios microbiológicos contra bactérias causadoras da mastite, primeiro in vitro e depois in vivo, com aplicação tópica das formulações diluídas nos tetos de caprinos e bovinos leiteiros. Os resultados da pesquisa, com processo de produção e produtos patenteados, vem de uma parceria formada há quatro anos. Os resultados de laboratório e de campo comprovaram o efeito antibiótico do produto, apresentando a mesma eficácia em comparação com produto convencional de referência. Além disso, não ocorreu alteração na qualidade do leite, sequer alteração no metabolismo das células dos tetos dos animais, tampouco efeito tóxico às células dos animais”, frisa.
A mastite é um processo inflamatório da glândula mamária nos animais leiteiros provocada por bactérias patogênicas. Esses micróbios costumam atuar no período da pós-ordenha, momento em que os canais dos tetos dos animais estão abertos e se constituem em porta de entrada para os chamados microrganismos patogênicos, tais como Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli. A inflamação pode provocar sérias perdas na produção dependendo de seu alcance.
Um dos caminhos para inibir a ocorrência de mastites é o uso justamente de antissépticos, como o desenvolvido de forma inédita pelos cientistas da UFRN e da UFERSA. Essas substâncias podem provocar a redução do número de bactérias na pele dos tetos em mais de 90% depois da ordenha. Contudo, de uma forma geral, os microrganismos causadores da mastite vêm adquirindo resistência aos produtos antibióticos usados para o controle da doença, seja pelas limitações de cada antisséptico ou o uso inadequado ou em baixas concentrações de químicos antimicrobianos. Uma outra explicação é a capacidade desses micróbios de formar colônias bacterianas denominadas biofilmes, um tipo de agrupamento com estrutura que confere proteção às condições adversas. De todo modo, a situação leva a uma seleção natural de cepas resistentes, contexto que indica a relevância de utilização de novos produtos para limpeza pós-ordenha.
O Brasil e o leite
Com mais de 35 bilhões de litros de leite produzidos no ano de 2021, o Brasil está no grupo de maiores produtores de leite do mundo, junto com Estados Unidos, Índia e China. Ao todo, a sua cadeia produtiva engloba cerca de 50 milhões de animais. Dados da Embrapa publicados em 2020 mostravam que, especificamente em relação a vacas ordenhadas, o Brasil detinha o segundo maior rebanho no mundo, atrás apenas da Índia. No mesmo documento, o valor bruto da produção primária de leite atingia quase R$ 35 bilhões, o sétimo maior entre os produtos agropecuários nacionais. Já na indústria de alimentos, esse valor mais do que duplica, com o faturamento líquido dos laticínios atingindo R$ 70,9 bilhões.
Denominado Cadeia produtiva do leite no Brasil: produção primária, o levantamento salienta que os números expressivos demonstram a importância de um setor que vem passando por grande transformação ao longo das últimas duas décadas. Nesse período, a produção de leite aumentou quase 80% utilizando praticamente o mesmo número de vacas ordenhadas, graças à elevação da produtividade do rebanho. No documento, há a afirmação de que, “graças à adoção de novas tecnologias, foi possível um aumento significativo da produtividade dos animais”. No fervilhar de números e em sua magnitude, emerge a relevância para a incorporação de novas tecnologias capazes de provocar grande impacto na melhoria de produtividade e competitividade da produção no campo.