Um estudo realizado pela USP, em colaboração com a Universidade de Bath, no Reino Unido, revelou um dado preocupante: o trauma na infância está relacionado a 30,6% dos transtornos mentais em adolescentes. A pesquisa, publicada em fevereiro na revista The Lancet Global Health, analisou dados de 4.229 jovens da Coorte de Nascimentos de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Ao longo dos anos, os pesquisadores observaram que 81,2% dos adolescentes vivenciaram pelo menos um evento traumático até os 18 anos. Entre os principais traumas relatados estão abusos físicos ou sexuais, violência doméstica, acidentes graves e perdas familiares. Como resultado, essas experiências impactaram diretamente o desenvolvimento emocional dos jovens.
Segundo a pediatra Alicia Matijasevich, professora da USP, a adolescência é uma fase crítica. “É justamente nesse período que muitos transtornos emergem ou se intensificam. A exposição precoce a traumas pode alterar o funcionamento cerebral”, explica.
Consequências e sinais de alerta
A pesquisa apontou que os transtornos mais comuns foram transtornos de conduta e oposição, ansiedade e transtornos de humor. Esses quadros, sem dúvida, afetam o desempenho escolar, a convivência familiar e a qualidade de vida dos adolescentes.
Além disso, o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que o trauma pode ser tanto concreto quanto subjetivo. Por exemplo, mesmo ao ouvir sobre tragédias, o jovem pode desenvolver respostas emocionais intensas.
Portanto, é essencial estar atento aos seguintes sinais de alerta:
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Mudanças de humor e apetite
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Alterações no sono
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Agressividade ou isolamento
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Queda no rendimento escolar
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Países em desvantagem e impacto social
Nos países de média e baixa renda, como o Brasil, a exposição ao trauma infantil é mais frequente e, infelizmente, o acesso à saúde mental ainda é limitado. Isso torna o impacto desses traumas ainda mais profundo. Conforme explica Alicia Matijasevich, a desigualdade social, a violência e a falta de políticas públicas agravam esse cenário.
Além disso, o estigma em torno dos transtornos mentais dificulta a busca por ajuda. Como consequência, muitos adolescentes não recebem o cuidado necessário, o que compromete seu futuro.
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Caminhos para prevenção
De acordo com os especialistas, é fundamental apostar em estratégias de prevenção e intervenção precoce. “Precisamos ampliar o acesso à saúde mental e capacitar professores e familiares para reconhecer os sinais de sofrimento”, ressalta Kanomata.
Entre os sinais que merecem atenção especial na adolescência estão: alterações de comportamento, queda no rendimento escolar, isolamento social, insônia ou excesso de sono e mudanças repentinas de peso. Por isso, a detecção precoce pode evitar o agravamento do quadro e permitir um tratamento mais eficaz.
Fonte: Agência Einstein
