A miscigenação no DNA brasileiro acaba de ser detalhadamente mapeada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP). O estudo, publicado na revista Science, analisou os genomas de 2.723 brasileiros e revelou quase nove milhões de variantes genéticas inéditas.
Leia também:
Estudo revela 8 milhões de variantes genéticas brasileiras inéditas
A diversidade é uma das características mais marcantes da população brasileira contemporânea; resultado de uma grande mistura de populações indígenas, europeias, africanas e asiáticas. O aspecto mais visível dessa miscigenação histórica é a imensa variedade de características físicas que podem ser encontradas entre brasileiros e brasileiras, de norte a sul do País. Mas existe também uma variedade mais profunda, de características genéticas ainda pouco conhecidas em função da escassez de estudos mais abrangentes sobre o DNA da população brasileira. Essa é a lacuna que uma pesquisa liderada por cientistas da Universidade de São Paulo busca preencher, com uma publicação na revista Science.
Fonte: USP
O estudo apresenta uma análise detalhada do DNA de 2.723 brasileiros e brasileiras, representantes de diversas etnias e regiões geográficas, que tiveram seus genomas sequenciados em alta definição nos últimos anos. Os resultados incluem a detecção de quase nove milhões de variantes genéticas inéditas, nunca antes identificadas em nenhuma outra população do mundo, que podem ser de interesse para pesquisas biomédicas e farmacêuticas “customizadas” para a população brasileira. Também jogam luz sobre a herança genética de eventos traumáticos da história nacional, como a escravidão (que trouxe milhões de negros africanos à força para o Brasil) e o extermínio de povos originários (que tiveram sua população reduzida em mais de 80% desde o início da colonização europeia).
Essa descoberta tem implicações profundas na medicina de precisão e na farmacogenômica. Segundo os pesquisadores, essas variantes podem ajudar no desenvolvimento de tratamentos personalizados, considerando as características únicas da população brasileira.
A miscigenação no DNA brasileiro e sua história
Além disso, o estudo mostra como a história do Brasil está escrita no DNA de seus habitantes. A ancestralidade predominante dos genomas analisados é europeia (60%), seguida da africana (27%) e indígena (13%). O DNA mitocondrial, herdado das mães, mostra forte influência indígena e africana. Já o cromossomo Y, herdado dos pais, apresenta maior presença europeia.
Como resultado, o estudo comprova o impacto do acasalamento assimétrico, reflexo do período colonial violento. Homens europeus tiveram acesso reprodutivo a mulheres indígenas e africanas, frequentemente de forma forçada. Essa dinâmica deixou marcas genéticas visíveis até hoje.
Implicações para a medicina e a ciência
Certamente, a miscigenação no DNA brasileiro também trouxe uma diversidade genética única. Os cientistas encontraram mais de 78 milhões de variantes, sendo 8,7 milhões inéditas. Entre elas, mais de 36 mil podem ser prejudiciais à saúde, afetando diretamente a predisposição a doenças.
Ainda que o Brasil tenha a maior população miscigenada do mundo, os dados genéticos disponíveis até então eram limitados. Por isso, essa pesquisa representa um avanço importante para o conhecimento sobre a saúde dos brasileiros.
Como mencionado, o estudo integra o projeto DNA do Brasil, que já sequenciou outros 6 mil genomas. O objetivo é entender melhor a diversidade genética nacional e desenvolver soluções médicas mais eficazes para todos os brasileiros.