A população de favelas do Rio de Janeiro enfrenta consequências profundas e duradouras após operações policiais, como a Operação Contenção, realizada no último dia 28 nos complexos do Alemão e da Penha. O confronto deixou ao menos 121 mortos, causou pânico com tiroteios e prejudicou o funcionamento de escolas, postos de saúde e comércio, alterando o transporte público e queimando ônibus.
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Segundo o professor José Claudio Sousa Alves, da UFRRJ, os efeitos vão muito além do impacto imediato. “As pessoas ficam com diabetes, hipertensão, distúrbios mentais, não dormem, têm AVCs e inúmeras complicações de saúde. É uma bomba invisível”, afirma.
População de favelas enfrenta impactos físicos e psicológicos
Pesquisas do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) mostram que moradores expostos a tiroteios têm mais que o dobro de risco de desenvolver depressão e ansiedade. Insônia atinge 73% deles, e 42% apresentam hipertensão arterial. Um terço relata tremores, falta de sono e sudorese durante os confrontos.
Manifestantes como Raimunda de Jesus e Liliane Santos Rodrigues, moradora do Alemão que perdeu o filho Gabriel há seis meses, afirmam que a violência deixa marcas profundas na vida cotidiana. “O Estado tem que cuidar de toda a população, não nos tratar como inimigos”, diz Raimunda.
A coordenadora do Geni/UFF, Carolina Grillo, reforça que operações como essa impactam principalmente os moradores, sem desestruturar efetivamente o Comando Vermelho. A facção, que controla territórios estratégicos e explora economicamente a comunidade, continua a expandir seu domínio, sobretudo na Baixada Fluminense e Leste Metropolitano.
Especialistas defendem que políticas de prevenção, educação, inserção no mercado de trabalho e combate não violento às estruturas financeiras do crime organizado oferecem resultados mais efetivos. Operações violentas, embora midiáticas, deixam traumas duradouros e não solucionam a raiz do problema.
