A três dias da entrada em vigor da tarifa de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros, senadores do Brasil cumprem agenda oficial em Washington, capital americana, para tentar barrar a medida. Nesta terça-feira (29), a comitiva se reuniu com parlamentares no Capitólio em uma tentativa de demonstrar as perdas bilaterais provocadas pelo tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump.
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Coordenada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, a missão tenta mobilizar apoio tanto de parlamentares democratas quanto republicanos, a fim de apresentar os impactos econômicos e diplomáticos da sobretaxa. Um dos primeiros encontros ocorreu com o senador democrata Martin Heinrich, do Novo México, estado que importa diversos produtos brasileiros.
“Não viemos com bandeira ideológica, viemos com dados e responsabilidade. O ‘não’ nós já temos, viemos correr atrás do ‘sim’”, disse Nelsinho Trad.
Durante a missão, os parlamentares brasileiros também entregaram uma carta-convite para que os congressistas norte-americanos visitem o Brasil e conheçam a realidade das relações comerciais entre os dois países.
Consequências do tarifaço
Anunciada no dia 9 de julho pelo presidente Donald Trump, a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros deve entrar em vigor em 1º de agosto. A medida foi justificada por Trump como uma retaliação à suposta perseguição judicial ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo Henrique Salles Pinto, consultor legislativo do Senado na área de Economia, o impacto da tarifa será mais profundo sobre as exportações brasileiras de produtos com valor agregado, como aviões, máquinas e alimentos beneficiados — casos do suco de laranja e derivados da indústria de transformação.
“O eixo São Paulo-Rio de Janeiro-Minas Gerais será o mais afetado em volume e valor exportado. Empresas como a Embraer, em São José dos Campos, estão diretamente ameaçadas”, afirmou o consultor.
Outros estados como Sergipe, Espírito Santo e Ceará, cuja dependência do mercado norte-americano é proporcionalmente maior, também devem sofrer prejuízos severos, com risco de embargo econômico a determinados produtos.
Perdas nos EUA e efeito dominó
Nos Estados Unidos, o tarifaço também poderá ter consequências negativas. Henrique Salles Pinto explica que tarifas elevadas já vêm sendo aplicadas a parceiros como China, Japão, Coreia do Sul e União Europeia. Isso tem pressionado os preços internos, contribuído para a inflação e pode levar à manutenção de juros altos pelo Federal Reserve, o banco central americano.
“Juros elevados impactam diretamente o investimento produtivo e podem agravar o desemprego nos Estados Unidos”, explicou.
A comitiva brasileira tenta usar esse argumento como uma das bases para sensibilizar congressistas e lideranças empresariais americanas. Na segunda-feira (28), os senadores estiveram com representantes da Câmara Americana de Comércio e de multinacionais como ExxonMobil, Cargill, Johnson & Johnson e Caterpillar. O objetivo é articular uma manifestação conjunta contra a medida.
Comitiva do Senado
A missão oficial do Senado é formada pelos senadores:
Nelsinho Trad (PSD-MS)
Carlos Viana (Podemos-MG)
Jacques Wagner (PT-BA)
Rogério Carvalho (PT-SE)
Teresa Cristina (PP-MS)
Esperidião Amin (PP-SC)
Marcos Pontes (PL-SP)
Fernando Farias (MDB-AL)
