O número de pessoas em situação de rua no país cresceu mais de 200% nos últimos 10 anos. Uma crise social que se agravou ainda mais com a pandemia. E, muitas vezes, essa população sem-teto depende da assistência de organizações sociais e voluntários para ter garantidos direitos básicos como alimentação e higiene.
Iniciativas como a de uma ONG, que foi às ruas de São Paulo, neste sábado (14.jan), para proporcionar algo muito simples: um banho. Para quem vive na rua, um banho bem tomado é mais do que um simples ato de higiene pessoal. É um gesto de autoestima, de deixar todas as dificuldades para trás.
Seu João, que não se lavava havia um mês, sentiu um alívio, assim que saiu da cabine. “Eu estava com tanto grude, eu estava pesado. Agora, eu tomei banho e estou tranquilo, 15 quilos mais leve”, ele conta.
Os 15 quilos que ficaram para trás trouxeram de volta uma autoestima ferida, de alguém que veio de Pernambuco para o cotidiano de quem não tem um teto na maior cidade do país. E ele não é o único. Segundo o Censo da População de Rua, divulgado no ano passado, são pelo menos outros 32 mil moradores da cidade de São Paulo que, nem sempre, têm acesso ao básico.
“Há mais de 6 anos, a gente está nas ruas, acompanhando a vida deles, convivendo com as dificuldades, e a gente percebeu que eles não têm acesso ao básico, que é a água, que é o banho. A gente começou a se mobilizar para trazer esse equipamento que dá o banho, a dignidade”, relata o fundador e presidente da ONG GAS, Christian Braga.
Na organização, que leva o trailer com água a vários pontos da cidade, não tem só banho, mas também comida, roupa, kit de higiene e um item muito importante para as mulheres que vivem na rua: absorvente feminino.
“Algumas mulheres tiravam o miolo do pão, e dizem que isso é bom para usar como absorvente. A gente precisa começar a trazer para essas mulheres, distribuir absorvente, fraldas para crianças, e toda a parte de higiene”, conta uma voluntária da GAS, Renata Braga.
Pouco mais de 280 mil brasileiros vivem em situação de rua em todo o país, segundo um levantamento do Ipea. Em 10 anos, a quantidade de pessoas que não têm um teto para morar cresceu mais de 200%. Na contramão desse aumento, a política pública para ajudar essa população ainda não consegue dar conta de uma assistência que mude essa realidade.
“Houve um processo de empobrecimento associado à queda de renda da população, na base da distribuição, e isso levou a esse aumento de 260% na população de rua. Mas, no final de 2019 a 2022, houve um aumento de 38% nessa população em situação de rua, que pode ser associado à pandemia, e um aspecto importante também. É que a verba do Sistema Único de Assistência Social para a população de rua caiu cerca de 40%, então, foi na contramão das necessidades”, explica o diretor da FGV Social, Marcelo Neri.
SBT News