A Polícia Federal deve abrir um novo procedimento para analisar conversas do ex-braço-direito de Jair Bolsonaro (PL) o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid, descobertas nas investigações de fraudes em registros de vacinação contra covid-19, sobre um suposto “golpe”. O ex-presidente e seu aliado foram alvos da Operação Venire, deflagrada na quarta-feira (3).
“A investigação ainda constatou tratativas para execução de um Golpe de Estado e possível tentativa de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito envolvendo o investigado Ailton Gonçalves Moraes Barros e pessoas ainda não identificadas”, destacou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que mandou prender Mauro Cid e outros aliados de Bolsonaro.
Foram detidos seis pessoas ao todo, no Rio e em Brasília. Entre eles, o ex-ajudante de ordem de Bolsonaro no Planalto, o major da reserva e advogado Ailton Gonçalves Moraes Barros, mais dois militares da segurança presidencial e um secretário municipal. Eles são suspeitos de fraudes nos lançamentos no sistema do Ministério da Saúde de registros de vacinações e posterior emissão de certificados de regularidade sanitária para viagens ao exterior.
Aliado de Bolsonaro, no Rio, Ailton Barros foi candidato a deputado estadual pelo PL, em 2022. Foi o militar que enviou o áudio, destacado por Moraes na decisão, em uma conversa em dezembro de 2022 com Mauro Cid.
No pedido de prisão e buscas e apreensões, da Operação Venire, feito pelo delegado da PF Fábio Alvarez Shor, não foi anexado a transcrição do diálogo, que Moraes destacou. Os dados estão em “despacho” da PF anexo ao pedido, em que os fatos foram “contextualizados” ao STF.
A CNN Brasil informou que nas conversas entre Mauro Cid e Ailton Barros eles falam sobre o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército.
A PF deve abrir um inquérito específico sobre o caso, apurou o SBT News, para aprofundar o envolvimento de Barros e de Mauro Cid, em supostas tratativas de golpe de Estado, após a derrota de Bolsonaro para o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Atuante”
As investigações sobre fraudes nos registros e certificados de vacinação da pandemia foram abertos à partir do inquérito das milícias digitais, contra aliados do clã Bolsonaro, sob relatoria de Moraes.
“A recusa em suportar o ônus do posicionamento contrário a vacinação, associada à necessidade de manter hígida perante seus seguidores, a ideologia professada (não tomar vacina contra a Covid-19), motivaram a série de condutas criminosas perpetradas”, representação da PF da Operação Venire.
O major aposentado, aliado de primeiro ordem de Bolsonaro, é um dos alvos centrais das investigações da Venire. Segundo a PF, os elementos apurados sobre o major Barros evidenciam “se tratar de um dos integrantes mais atuantes no esquema criminoso”.
“Tais fatos revelam a necessidade de colher mais elementos que permitam esclarecer e delimitar a participação de todos os indivíduos nos crimes investigados.”
“PR01”
A PF destaca nos pedidos de prisão da Venire a “proximidade” do militar aposentado com os cabeças das manifestações do 7 de Setembro, de 2021 – quando bolsonaristas protestaram no feriado, em defesa do governo e das forças militares. Citado ainda que Barros tem como um de seus contatos, pessoa identificada como “PR01”, chamada por ele de “PR”.
“Possivelmente se refeindo aos ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro, revelando sua atuação como um dos propagadores da ideologia professada pela milícia digital investigada nos autos do Inq. 4874/DF”, informa representação da PF da Operação Venire.
Bolsonaro, que foi alvo de buscas e apreensões, negou na 4ª feira ter tomado as vacinas, após buscas realizadas pela PF em sua casa, em Brasília. O ex-presidente disse ter ficado surpreso com a operação. “Nunca me foi pedido cartão para entrar (nos EUA)”, disse. “Não existe adulteração da minha parte, não tomei vacina”, afirmou.
Os seis presos, entre eles Mauro Cid e Ailton Barros, foram levados na 4ª feira (3.mai) para a sede da PF, em Brasília. Todos permaneceram calados, diante das perguntas da polícia.
SBT News