O secretário de Planejamento de Natal, Vagner Araújo, relatou nesta quinta-feira (19) os bastidores da missão oficial que participou em Israel, marcada por momentos de tensão devido aos recentes conflitos armados no país. A entrevista foi concedida à jornalista Micarla de Sousa, no Jornal do Dia, da TV Ponta Negra.
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Segundo Vagner, a comitiva foi convidada pelo Governo de Israel para uma missão de dez dias, com o objetivo de conhecer boas práticas em gestão de serviços públicos nas áreas de educação, segurança, trânsito, mobilidade e prevenção à violência.
O convite original foi feito ao prefeito de Natal, Paulinho Freire, que não pôde comparecer por causa da programação do São João e designou Vagner para representá-lo.
“Viajei com muita satisfação, sabendo da importância que tinha para a cidade, inclusive na área de planejamento. Apesar de ser conhecido pelos conflitos, Israel é um país de avanços tecnológicos”, explicou o secretário.
Alerta de conflito e refúgio em abrigo
Durante a estadia, a comitiva foi surpreendida por ataques com mísseis. Vagner relatou que, já no embarque para Israel, os participantes foram orientados a se familiarizar com o termo “miclat”, que significa abrigo.
“3h da madrugada, estava dormindo, de repente um alarme ensurdecedor nos telefones de todo mundo dizendo que a gente procurasse um ‘miclat’, um abrigo”, contou.
Após o alerta, o grupo se refugiou em um abrigo subterrâneo no campus universitário onde estavam hospedados. Eles passaram três dias no local, com alimentação limitada a pizza e sanduíches, convivendo com a tensão constante dos alertas sonoros.
“Ficávamos ali conversando, tentando descontrair o clima. Os avisos sonoros tocavam principalmente à noite. Não dormíamos mais que 1h por noite, isso quando conseguíamos”, relatou.
Fuga planejada com ajuda diplomática
Segundo Vagner, a percepção de risco cresceu com o passar dos dias.
“A sensação que eu tinha era: a gente tem que sair daqui o mais rápido possível, porque a situação vai se complicar ainda mais, daqui a pouco vai faltar energia, água, vai faltar internet, vão bombardear as pontes onde a gente ainda poderia atravessar para sair do país.”
Ele contou que o grupo recorreu ao Google Maps para estudar rotas de saída, e a fronteira com a Jordânia foi escolhida como a alternativa mais rápida e segura.
“Eu vi que o percurso tinha que ser o mais rápido de saída de Israel e tinha um que ficava a 1h30 da fronteira até a Jordânia, então eu disse: a gente vai focar nesse percurso porque esse é o com menor tempo de percurso e menor risco, portanto.”
O plano de fuga foi coordenado com a Embaixada do Brasil e o Ministério das Relações Exteriores. O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, ajudou a liberar a fronteira e providenciar um veículo para o grupo.
Na segunda-feira (16), os 12 integrantes da comitiva deixaram Israel, enquanto outros seis brasileiros optaram por permanecer no país. Entre os que deixaram a região estavam prefeitos e secretários de cidades como João Pessoa, Macaé, Nova Friburgo, Santarém e Natal.
“Fomos o primeiro grupo a sair. Alguns brasileiros e os de outros países que estavam com a gente preferiram ficar por receio de fazer esse percurso até a fronteira diante de algum risco de incidentes”, disse.
Alívio na Jordânia
Após a travessia para a Jordânia, o grupo seguiu para a Arábia Saudita e, de lá, para o aeroporto rumo ao Brasil.
“Lá (na Arábia Saudita), de novo, um posto de fronteira, todo o processo de demora para a gente passar e depois que a gente passa, pegamos um ônibus para o aeroporto”, explicou.
Segundo o secretário, o primeiro alívio foi sentido ao cruzar a fronteira com a Jordânia.
“O nosso receio era estar em um território sob mira de mísseis balísticos a todo momento, a todo instante.”
Reflexão sobre a experiência
Apesar das adversidades, Vagner Araújo considerou a missão importante do ponto de vista pessoal e institucional.
“Nós fomos buscar conhecimento sobre coisas que queríamos e trouxemos sobre o que não queríamos. Mas é conhecimento, é experiência de vida”, concluiu.
